A arte
(em todos os sentidos!) além de comunicar-se concebendo informações, opiniões
ou espelhando a realidade, cria outro real em originais expressões por meio de
um mágico artifício de incubação moral/ intelectiva/espiritual expandindo a
História da humanidade!
Camões e Herculano confiavam que
deveria ser objetivo do artista mostrar (por meio de suas obras) o olhar
espiritual artístico em infindáveis perspectivas de horizontes e destinos que descortinassem
esperanças magníficas no futuro.
Arte e História
numa original definição: criatividade, sensibilidade humana e eternidade!
Imagens da glorificação do homem-herói,
navegador, soldado, aventureiro, cavaleiro... Ou intensos amores incorpóreos
(perfeitos e sagrados!), tragédias, dualismos, patriotismos, etc. Serão as obras
desses homens memórias ou frutos da saudade de um glorioso futuro!
Quando
jovem convivia com livros... Eram meus melhores amigos! Podíamos sonhar
questionar e nos aventurar por várias realidades, juntos!
Não
havia certo ou errado... Mas, uma magia que ultrapassava tempo e dimensões.
Adorava
Camões! Tornou-se obsessão tentar entendê-lo.
Passou a idade e sonhos camonianos
tornaram-se apenas ficção de um escritor meio chatinho pra se ler e meio incompreensível!
Conheci
outros escritores. Com o correr do tempo, reencontrei alguns amigos de outrora... Eu mudara e minha interpretação foi inédita. Inesperada. Parecia que surgiam novos fatos nas entrelinhas...
Ler e reler sempre revela novas descobertas e
os devaneios sempre ressurgem! Essa é a magia da leitura.
Nosso
linguajar é vivo e dinâmico e em contínuas transformações amolda comportamentos,
nações, experiências e valores estético-morais, enfim, motivando percepções
interativas de inacabáveis universos num vasto sistema de influências
recíprocas... Num mágico caleidoscópio da
comunicação humana!
Julie Champagne disse um dia: “A saudade portuguesa
exprime, entre outras coisas, o passado que foi e o futuro que nunca será. Um
grande paradoxo que vivem os portugueses face às esperanças que têm no futuro
de Portugal. Sonham com um destino maravilhoso, idêntico à época das Descobertas
(...) Trata-se de um passado futuro!” (Saudade: o Bilhete de Identidade do Povo
Português).
Luís de
Camões (Lisboa [?] 1524-1580) escreveu os matizes infinitos dessa
saudade: através dos escritos que ostentam as “Grandes Explorações e as Descobertas dos Portugueses”.
Em
nuances de mar e saudades heroicas, cavaleiros ou navegadores, amores e ideais, ou... Lusíadas - povo
lusitano: antepassados dos portugueses, suas aventuras, eventos históricos,
explorações e descobertas, o famoso Camões continua chatinho pra se ler e
fascinante pra se sentir quando ousamos na leitura!
E Alexandre Herculano?
A narrativa dos romances ou poesias de Alexandre Herculano (Lisboa - 1810- 1877) é um retorno às “origens pátrias” e outro exemplo de saudade do futuro?
A narrativa dos romances ou poesias de Alexandre Herculano (Lisboa - 1810- 1877) é um retorno às “origens pátrias” e outro exemplo de saudade do futuro?
Herculano
nutre um intuito poético na prosa, principalmente em Eurico, usando a linguagem
num tom meio utopista, mantendo ritmo e significado epopeico em suas
imaginações!
Instruído
e crítico, cultivou enredos medievais restaurando a prosa literária arquivando
em seus escritos os entretons históricos: trajes, armas, costumes, decorações,
paisagens, leis, arquitetura, etc.
Sobressai
na narrativa a descrição das memórias medievais: belos castelos com densos poços,
cavalheiros super-homens e fulgentes capacetes! Portanto, a Idade Média foi o pivô
vital para recuperar a historiografia portuguesa, aliando à tradição da
Cavalaria.
Assim
como Camões, Herculano exalta os heróis numa nítida epopeia camoniana onde são
relatadas as proezas de um carismático herói (Eurico) num contexto nobre, inventado
e recriado por um escritor admirável!
As
básicas imagens dramáticas desses dois escritores são como que encarnações,
possuidoras de poderes sobrenaturais, “anjos ou diabos”, dedicados a um
objetivo amaldiçoado ou santificado (Ex.: Eurico anjo negro e vários
personagens de “Os Lusíadas” representando todo o povo Português e não apenas
Vasco da Gama, considerado o personagem representante dos povo lusitano).
Ambos
recriminam a cobiça humana e as leis da sociedade!
Amor idealista e crença cristã estimulando o amor espiritual, mas cativo de
certo dualismo: alumia a mente originando a poesia e nobreza do espírito (sublime,
eterno e casto) ao mesmo tempo em que tortura escravizando.
Se a realização
terrena é impossível é imperativo a destruição dos amantes, assim poderão unir-se
além da morte. Assim sendo, a morte escolta o amor na poesia de Camões (claramente
ou subentendida!) e nas obras de Herculano.
Mulher
- anjo arquitetado entre o céu e a terra: nobre, idealizada e inatingível!
Sentimento
de imortalidade resistindo ao
transitório viver humano.
Desengano - contrastes dialéticos e de linguagem expondo a transitoriedade
do mundo.
Juízo
de fatalismo: universos efémeros,
humanos e ideais impotente ou precários versus poderes inabaláveis do destino
Erudição,
explanações filosóficas/político/sociais, descrição pitoresca e pretextos de
narração poética.
Para
ambos a fé significou a réplica extrema
para as "desarmonias do existir": Se a iniquidade vencer o viver, o homem
encontrará seu prêmio no Céu.
O
análogo entre religião e pátria,
heróis torturados por amores, mulheres angelicais e o ostensivo Culto do cavalheiresco num miscigenado ideal
patriota destaca-se nitidamente gerando o resgate da história do povo
português.
Enfim,
Camões exibe em suas obras algumas das tendências que marcam o romantismo
português: a construção do herói romântico, grande expressão do amor à mulher e
do amor à pátria.
E Herculano (iniciador do romance histórico em
Portugal) era plenamente consciente sobre a realidade do seu país, de tal
maneira que buscou inventariar em seus escritos a ficção inclusa na História, pois
percebeu que o romance histórico além de divulgar, convida irresistivelmente para
o conhecimento da História.
Camões
e Herculano souberam incluir a história com a imaginação sem que uma destruísse
a outra.
Ao ler
esses gênios, mergulhamos nos matizes do passado através de enredos fascinantes,
temas polêmicos e entremeados de observações filosóficas, sociais e políticas.
Constatei
que esse ajuste entre eventos históricos e ficcionais, num estilo de linguagem recheado
de criatividade, heróis, cores e movimento (embora pareça difícil ler e
compreender por causa das mutações que a própria língua vai passando) continua sendo envolvente e mágico!
Ler é ousar conhecer outros universos. E você... o que acha do hábito da leitura?
Ler é ousar conhecer outros universos. E você... o que acha do hábito da leitura?
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