Versos e devaneios...

Indago ao tempo:
- E a solidão?
Divago...      
Encontrando o amor...
                              Perdido no coração...
                    Que me indaga:
         - E o tempo?
Perdi a noção! 


   
ERA UMA  VEZ...
Uma orquídea azulada, replena de nuvens vaporosas e tão orvalhada, que flutuava ao vento!
Naquele idílio, pressentia-se o cicio da prudência rítmica do existir!
Uma vez... Era um espinheiro, que morava ao lado da orquídea, mantendo-se sempre firme e consistente!
Ostentava-se sem folhas verdejantes, possuindo galhos e espinhos pontiagudos!
O vento lhe beijava o corpo rijo num afago terno... Mas, ele permanecia austero e conciso! Sustentando seu próprio estilo de vida: estável, resistente, inabalável e contente!
Outra vez? Era uma...
... Brisa cálida que a tudo e todos conhecia. Bailava no ar, trazendo aromas de flores e luar!
... Outras vezes... Transformava-se em impiedoso vento, alastrando chamas e calor, destruindo avidamente tudo ao seu redor! Transfigurando vida em cinzas!
Imune, cônscio de sua peculiar natureza, transmutava-se novamente em brisa suave! Indiferente à destruição propagada.
Eis o vento... O ar... O portal da renovação infinita! Qual melodia de brisa acariciante ou som de um tufão horripilante!
Estrelas resplandecentes admiravam o sincronismo complacente da mãe natureza, no planeta racionalizado dos homens.
Humanos e animais: legítimos cidadãos do planeta terra!
 Estrelas risonhas inclinam-se no espaço, aproximando-se das personificações inusitadas de sabedoria...

Orquídea, em seu silêncio prestimoso, exalando quietude e formosura!
Espinheiro, em seu sistema secular de existência e disciplina!
E o vento, em suas metamorfoses constantes, sem desvanecer-se ou afetar-se pelas circunstâncias. Emitindo sua essência imutável!
Subitamente, um rugido ressoa na floresta!
            Folhagens agitam-se ligeiras no ar... Minúscula lebre foge espavorida!
Pára por alguns instantes... Incerta sobre onde esconder-se!
A orquídea inclina-se, assustada e prestativa!
O espinheiro permanece inerte!
O vento flutua somente observando.
Rosna faminta onça, numa caçada desesperada. Imutável lei de sobrevivência!
A lebre decide-se. Encolhe-se feito bolinha clara e penetra nos braços do espinheiro!
O seco e espinhento arbusto protege o animalzinho, envolvendo-o em seus galhos duros e finos!
A onça aproxima-se com a bocarra aberta. Ofegante, lança-se sobre o espinheiro e urra de dor... Ferida pelos pontiagudos espinhais!
Esfomeada, permanece à espreita, procurando uma abertura para abocanhar a indefesa criatura.
Enfim, aquieta-se a certa distância.
A lua resvala no horizonte e nuvens claras caminham no ar, suspensas pelo hálito morno da noite recém-nascida!


A lua em si, não tem luz própria! Mas, em seu sábio luzir-luzir, espelha-se luzente, transformando-se em várias luas! A cada anoitecer.
A brisa esvoaça-se sobre a orquídea e sob o reflexo luzidio do luar... Ambas bailam em volteios diáfanos! Volvendo uma cantiga serena e mesclada de paz!
Onça e lebre, esquecidos de seus projetos íntimos, admiram aquele bailado!
Imersos na quietude da cena cativante, olvidam de si mesmos e deleitam-se com o instante mágico!
            A lebre constata que a fragilidade encantadora da orquídea, naquele bailado com o vento, salvou-lhe a vida!
Envolta em gratidão, admira o espinheiro, que intrépido a protegera!
Num sorriso de lebre, volve o olhar para a luz refletida no céu!
A onça ergue a cabeça, extasiando-se com a imagem prateada!
Envolvidos naquele instante fulgurante, retornam aos seus (mesma espécie!), omitidos da lei de sobrevivência!
Tornam-se mansos, retornando ao lar!

O garoto acorda... Olhos sonolentos de luar!
Ajeita-se na cadeira fofa da varanda de sua casa e alonga a face para as preciosas orquídeas de sua mãe. Entre elas, percebe alguns galhos secos do espinheiro antigo!
Sorri. Lembrando-se... Fora um sonho?
Em busca de estrelas faiscantes, vasculha o espaço, que se encontra repleto delas!
Algumas cambiantes estrelinhas deslizam no bosque próximo... Aproximam-se?
Talvez esteja sonhando!
Nisso, o vento balbucia e o menino ouve sua voz de arzinho sussurrante:
-‘ Criança, perante os obstáculos da vida,  se entregue à humildade de sua própria consciência. Aprenda a sentir, viver e sonhar!
 Seja como a orquídea: delicadamente exalando serenidade! Quando cortada ou magoada, exercita a sabedoria da renúncia do egoísmo: compreensão e caridade!
Jamais protesta... Antes, continua a servir... Numa mutação contínua de encanto e suavidade!
Seja como o espinheiro: humilde, numa fortaleza sublime dos bravos e fortes! Disciplina, tolerância e solidez de caráter!
Os fracos e egoístas não entendem a simetria sábia e simples da natureza!
Seja forte e aprenda!

Sinta meu aroma, embora haja chuvas e tempestades pelos ares do destino, o espaço imensurável continua o mesmo!
Em nossa consciência devemos nos tornar um céu interminável de amor e entendimento!
 Assimile o som do universo, para que sua alma fale em seu coração!’
O menino ergue-se assustado com as estrelas do bosque, que encontravam-se no quintal de sua casa! Ou seriam milhões de vaga-lumes?
Luzentes como um amanhecer pareciam dizer-lhe:
- Nossa vida é como a lua: reflete nossos sonhos e temores!
A luz que nossas palavras, atos e pensamentos refletem... Vêm de nossas almas!
Uma porta abre-se!
O garoto volta-se assombrado buscando a origem do ruído!
Mesclada de luz (do interior da moradia), sua mãe aproxima-se alegre... Despreocupadamente brinca, dizendo-lhe:
- Meu filho, vem sonhar em casa. Os mistérios da natureza são moradia dos anjos!
- Estou indo, mamãe!
E no murmúrio da noite enigmática... Saturada de segredos, ouve-se (ainda!) sussurros... Mesclados de luz:

- Era uma vez..

‘VIVER?
- Procuramos alguma razão...
Para o destino do relógio!
Ponteiros são tão fatídicos!
Minutos são inéditos.

Nesse estranho relógio...
Ouça a melodia do coração!

Cada qual o seu viver.
Existimos... Intercalados!
Em sonhos amados...
Paralelos... Sobrevivendo.
Cada qual o seu sofrer...

... Seus ideais estão cansados?
Os meus... Parecem derrotados?
Ambos... Se erguendo...
Instantes vão acontecendo...
Somos futuro a renascer 
Coração...
                  Eis me embrião...
                                          Germinando fábulas!
                                                Em risos do amanhecer
                                                       Em lágrimas do anoitecer...
                                                             Fecundando a eternidade
                                                                      Através do coração!

AMORES E DORES
                                                                                                                                                                   Um rugido ressoa atônito!
Incrédulo, prejulga a dor...
Que repousa mimos de amor!
Risos rugem... Ébrio alento!
Amar somente... Tremelicando!
Vivendo... Se apaixonando!
Mil amores e dores... REBENTOS

CANÇÃO
Meu canto de morte...
É a vida que revive no rosto.
São os sorrisos.
O sentimento decomposto.
São as lágrimas!
A agonia e desgosto...
É a fartura de amor...
Que canto com gosto!
                                                                                                                                                                


VIVER
Quando o sonho torna-se objetivo?
No instante em que o objetivo transforma–se em atitude.
    A atitude é um sonho pensado
    Arquitetado.
    Acreditado.
   :Enfim... O motivo:
                                Crer no sonho... 
Em sua plenitude...
                                 Apenas  ser!

DESEJO

Vasculho minha alma...                                                                                                      E busco meus desejos...
Encontro entulhos de mim mesma.
Embrulhos de ontem e amanhã...
Procuro teorias e traquejos...
Para reencontrar EU mesma!
Entulhos de ontem... Deixo pra amanhã.
Hoje... Busco minha alma.