sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Camões, literatura e Alexandre Herculano.

A arte (em todos os sentidos!) além de comunicar-se concebendo informações, opiniões ou espelhando a realidade, cria outro real em originais expressões por meio de um mágico artifício de incubação moral/ intelectiva/espiritual expandindo a História da humanidade!
            Camões e Herculano confiavam que deveria ser objetivo do artista mostrar (por meio de suas obras) o olhar espiritual artístico em infindáveis perspectivas de horizontes e destinos que descortinassem esperanças magníficas no futuro.
Arte e História numa original definição: criatividade, sensibilidade humana e eternidade!
             Imagens da glorificação do homem-herói, navegador, soldado, aventureiro, cavaleiro... Ou intensos amores incorpóreos (perfeitos e sagrados!), tragédias, dualismos, patriotismos, etc. Serão as obras desses homens memórias ou frutos da saudade de um glorioso futuro!


Quando jovem convivia com livros... Eram meus melhores amigos! Podíamos sonhar questionar e nos aventurar por várias realidades, juntos!
Não havia certo ou errado... Mas, uma magia que ultrapassava tempo e dimensões.
Adorava Camões! Tornou-se obsessão tentar entendê-lo.
            Passou a idade e sonhos camonianos tornaram-se apenas ficção de um escritor meio chatinho pra se ler e meio incompreensível!
Conheci outros escritores. Com o correr do tempo, reencontrei alguns amigos de outrora... Eu mudara e minha interpretação foi inédita. Inesperada. Parecia que surgiam novos fatos nas entrelinhas...  
Ler e reler sempre revela novas descobertas e os devaneios sempre ressurgem! Essa é a magia da leitura.
Nosso linguajar é vivo e dinâmico e em contínuas transformações amolda comportamentos, nações, experiências e valores estético-morais, enfim, motivando percepções interativas de inacabáveis universos num vasto sistema de influências recíprocas...  Num mágico caleidoscópio da comunicação humana!
Julie Champagne disse um dia: “A saudade portuguesa exprime, entre outras coisas, o passado que foi e o futuro que nunca será. Um grande paradoxo que vivem os portugueses face às esperanças que têm no futuro de Portugal. Sonham com um destino maravilhoso, idêntico à época das Descobertas (...) Trata-se de um passado futuro!” (Saudade: o Bilhete de Identidade do Povo Português).
Luís de Camões (Lisboa [?] 1524-1580) escreveu os matizes infinitos dessa saudade: através dos escritos que ostentam as “Grandes Explorações e as  Descobertas dos Portugueses”.
Em nuances de mar e saudades heroicas, cavaleiros ou navegadores,  amores e ideais, ou... Lusíadas - povo lusitano: antepassados dos portugueses, suas aventuras, eventos históricos, explorações e descobertas, o famoso Camões continua chatinho pra se ler e fascinante pra se sentir quando ousamos na leitura!
Alexandre Herculano?
A narrativa dos romances ou poesias de Alexandre Herculano (Lisboa -  1810- 1877) é um retorno às “origens pátrias” e outro exemplo de saudade do futuro?
Herculano nutre um intuito poético na prosa, principalmente em Eurico, usando a linguagem num tom meio utopista, mantendo ritmo e significado epopeico em suas imaginações!
Instruído e crítico, cultivou enredos medievais restaurando a prosa literária arquivando em seus escritos os entretons históricos: trajes, armas, costumes, decorações, paisagens, leis, arquitetura, etc.
Sobressai na narrativa a descrição das memórias medievais: belos castelos com densos poços, cavalheiros super-homens e fulgentes capacetes! Portanto, a Idade Média foi o pivô vital para recuperar a historiografia portuguesa, aliando à tradição da Cavalaria.
Assim como Camões, Herculano exalta os heróis numa nítida epopeia camoniana onde são relatadas as proezas de um carismático herói (Eurico) num contexto nobre, inventado e recriado por um escritor admirável!
As básicas imagens dramáticas desses dois escritores são como que encarnações, possuidoras de poderes sobrenaturais, “anjos ou diabos”, dedicados a um objetivo amaldiçoado ou santificado (Ex.: Eurico anjo negro e vários personagens de “Os Lusíadas” representando todo o povo Português e não apenas Vasco da Gama, considerado o personagem representante dos povo lusitano).
Ambos recriminam a cobiça humana e as leis da sociedade!
Amor idealista e crença cristã estimulando o amor espiritual, mas cativo de certo dualismo: alumia a mente originando a poesia e nobreza do espírito (sublime, eterno e casto) ao mesmo tempo em que tortura escravizando.
Se a realização terrena é impossível é imperativo a destruição dos amantes, assim poderão unir-se além da morte. Assim sendo, a morte escolta o amor na poesia de Camões (claramente ou subentendida!) e nas obras de Herculano.
            Mulher - anjo arquitetado entre o céu e a terra: nobre, idealizada e inatingível! 
Sentimento de imortalidade resistindo ao transitório viver humano.
Desengano - contrastes dialéticos e de linguagem expondo a transitoriedade do mundo.
Juízo de fatalismo: universos efémeros, humanos e ideais impotente ou precários versus poderes inabaláveis do destino
Erudição, explanações filosóficas/político/sociais, descrição pitoresca e pretextos de narração poética.
Para ambos a fé significou a réplica extrema para as "desarmonias do existir": Se a iniquidade vencer o viver, o homem encontrará seu prêmio no Céu.
O análogo entre religião e pátria, heróis torturados por amores, mulheres angelicais e o ostensivo Culto do cavalheiresco num miscigenado ideal patriota destaca-se nitidamente gerando o resgate da história do povo português.
Enfim, Camões exibe em suas obras algumas das tendências que marcam o romantismo português: a construção do herói romântico, grande expressão do amor à mulher e do amor à pátria.
 E Herculano (iniciador do romance histórico em Portugal) era plenamente consciente sobre a realidade do seu país, de tal maneira que buscou inventariar em seus escritos a ficção inclusa na História, pois percebeu que o romance histórico além de divulgar, convida irresistivelmente para o conhecimento da História.




 Camões e Herculano souberam incluir a história com a imaginação sem que uma destruísse a outra.
Ao ler esses gênios, mergulhamos nos matizes do passado através de enredos fascinantes, temas polêmicos e entremeados de observações filosóficas, sociais e políticas.
Constatei que esse ajuste entre eventos históricos e ficcionais, num estilo de linguagem recheado de criatividade, heróis, cores e movimento (embora pareça difícil ler e compreender por causa das mutações que a própria língua vai passando) continua sendo envolvente e mágico!
Ler é ousar conhecer outros universos. E você... o que acha do hábito da leitura?



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